Robert Schumann

Era uma vez dois jovens artistas, um compositor e uma pianista. Conheciam-se há muito tempo, e estavam apaixonados.

Ele era advogado, culto, editor da Allgemeine Zeitscrhift, uma revista musical, ela era famosa por toda a Europa por seus concertos. Ele foi um dos pais do Romantismo Alemão, amigo de Heirich Heine, Franz Liszt, Fredéric Chopin. Ela foi amiga do famoso violinista Joseph Joachim e confidente de Johannes Brahms.Ele havia sido destinado pela mãe ao Direito, mas, uma vez formado, aplicou seu genial talento à música. Ela foi criada para ser concertista de piano, mas renunciou a isto para ser sua mulher.

Tudo começou quando o jovem, recém-formado em Direito, resolveu estudar música, arte que o atraía desde a infância. Procurando um professor, foi à Leipzig, no norte, procurar o mais renomado professor de música da Alemanha, o sr. Frederich Wieck, pai da pianista, Clara Wieck. O rapaz, que o procurara para ter lições de piano, era um desconhecido estudante de Zwickau, na Saxônia, chamado Robert Schumann. Nascido em 8 de junho de 1810, Schumann sempre manifestou igual interesse pela música e pela literatura. Proveniente de uma família culta - seu pai era livreiro - o moço é incentivado a estudar.

Primeiramente encaminha-se para a faculdade de direito, mas logo que a deixa opta por estudar música.

Quando conheceu a filha do professor, Clara, ela ainda era uma menina. A natureza de Schumann, as histórias folclóricas - algumas inventadas por ele, quem sabe - prendem a atenção da garota, e tornam-se bons amigos. Todavia, algo há de anormal no jovem. Suas histórias são sempre fantásticas, irreais, cheias de "duplos", "sósias", "duplas personalidades"... Ele mesmo parece ter duas naturezas conflitantes, uma arrebatadora e vigorosa, a outra calma e meditativa...

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A jovem Clara Wieck.

Linda, não?

Apesar de estar um pouco velho para tentar a carreira de concertista, o Schumann se esforça. Na ânsia de progredir, inventa um aparelho para exercitar os dedos. Como consequência, consegue uma paralisia nas mãos que o força a abandonar as ambições pianísticas. Morre o concertista, nasce o compositor.

Seus problemas continuam. Ele mesmo escreve, em seus diários, que teme "perder a razão". Batiza, ele mesmo, duas diversas personalidades: Eusébio, Florestan, Meister Raro, usando-as como pseudônimos em seus artigos musicais, que escreve para a Nova Gazeta Musical. Consulta um médico, que, sem entender a natureza de seus problemas, o aconselha a casar-se. Surge em sua vida a jovem Ernestine Von Friecken, por quem Schumann nutrirá uma grande afeição. Tornam-se namorados, logo estão noivos.

De repente, sem nada que pudesse explicar, Schumann rompe seu relacionamento com Ernestine, a quem havia dedicado várias de suas obras. Ernestine, resignada, lhe diz: "sempre soube que em toda a sua vida você só poderia amar Clara". Schumann é tomado de surpresa. Sabe que a ex-noiva tem razão, e abre-se com o pai de Clara, o prof. Wieck.

Este, que o tratava como um filho, torna-se inimigo mortal. Por quê? Ninguém sabe ao certo. Talvez não quisesse ver a filha, que ele tanto preparou para a carreira de concertista, ligada definitivamente a alguém. Talvez quisesse um partido melhor que aquele compositor sem recursos. Talvez já notasse que por trás das crises de depressão de Schumann havia o prenúncio de algo mais grave.

Clara e Robert começam a batalha para conseguirem se casar. Clara é mandada pelo pai numa turnê de concertos pela Europa; os jovens são proibídos de se encontrarem ou se corresponderem; Wieck acusa Schumann de alcoolismo, difama-o, acusa-o de várias maneiras, sob os mais variados pretextos. Apenas quando Clara faz 21 anos, tornando-se legalmente maior, eles conseguem se casar, não sem antes enfrentarem um último processo de Wieck.

Tem início uma convivência excepcionalmente harmoniosa. Os dois mantém um diário em comum, fato único na história da música. Com o nascimento do primeiro filho, reconcilia-se com o professor Wieck, e sua vida assume os contornos de uma existência normal.

claraerobert.gif (56452 bytes) Mas nem tudo vai bem. Como compositor, Schumann não granjeia a fama que lhe é devida; várias vezes viu o nome da mulher maior que o seu, era abordado como o "marido da pianista", não como um compositor autônomo. Finalmente, após vários empregos insatisfatórios, é escolhido para diretor musical de Düsseldorf em 1850. As crises de melancolia de Schumann tornam-se mais fortes e mais frequentes. Ele tem alucinações, crises de depressão, pouco poder de concentração. Como compositor, ainda está no auge de sua capacidade, mas sua mente declina aos poucos, condenando-o à loucura, mais cedo ou mais tarde.

Em 1853, um jovem vem procurar Schumann para mostrar-lhe suas composições. Recebido entusiasticamente, o jovem Johannes Brahms tornou-se um membro da família Schumann, fiel até a morte. Mas, apesar de sua dedicação à família Schumann, Brahms não estava presente quando, em 27 de fevereiro de 1854, Schumann atira-se ao Reno. Salvo pelos amigos, é internado em um santório para loucos, onde morre em 29 de julho de 1856.

Obras

Schumann dedicou a maior parte de suas obras ao piano, e são justamente essas peças que garantem sua imortalidade. Um bom começo para se familiarizar com sua música é o Traumerei ou Revêrie, uma pequena música que faz parte de um conjunto maior, as Cenas Infantis, op. 15. As Cenas trazem o melhor do lado "contador de histórias" que foi Schumann. Apesar de Traumerei ser a peça mais famosa, é recomendável ouvir todo o conjunto. O mesmo se aplica ao Carnaval, op. 9. Nesse intrigante conjunto de peças para piano, Schumann retrata um baile de carnaval, por onde passam Arlequim, Pierrot, Colombina, Chopin, Paganini, Ernestine Von Frieken e Clara Schumann - ainda Wieck, na época. Cada um é retratado em uma das 29 peças que compõe o Carnaval. As diversas personalidades de Schumann também estão presentes, nas peças Eusébios e Florestan. As Pappillons op. 2 merecem sair do esquecimento em que estão.

Sua obra maior, porém, é o Concerto em Piano em Lá Maior, op. 54. Escrito como um presente para Clara, foi iniciado em 1841, como uma simples Fantasia de um movimento. Retomado em 1845, foram acrescidos os movimentos finais. É uma das obras básicas do repertório pianístico. O melhor de Schumann está nessa obra. Como dissemos, há uma profusão de boas gravações no mercado. Recomendamos a que tem Leonard Bernstein como regente, embora não seja a única boa.

As sinfonias de Schumann não são suas melhores obras. Ainda assim, não podemos ignorar a beleza da Sinfonia n 3, a Renana, op. 97, escrita em 1850. Cada um de seus 5 movimentos é uma homenagem ao famoso rio alemão e cidades próximas. O 4o. movimento, em especial, retrata a Catedral de Colônia. As outras três também são boas, mas o Schumann da melhor safra está realmente na Renana. Novamente recomendamos aqui a versão de Bernstein.

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Clara, já esposa de Robert

Schumann foi um grande compositor de lieder. Descendente, nesse particular, de Schubert, Robert Schumann conseguia adequar perfeitamente os poemas que utlizava a suas melodias, utilizando o piano, muitas vezes, para ilustrar as imagens sugeridas pelos poemas. Seus melhores lieder estão agrupados em coletâneas, que, para ter sentido, precisam ser ouvidas integralmente. Dentre as mais famosas estão Mirthos, op. 25, sobre textos de poetas diversos, Amor e Vida de uma mulher, op. 42 sobre textos de Adalbert Von Chamisso, O Amor do Poeta, op. 48, coletânea que usa os versos do genial Heirich Heine, e LiederKreis, op. 39, usando textos de Joseph Von Eichendorff. Boas gravações são as de Dietrich Fischer-Dieskau, barítono.

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