CARTAS DA BEIRA DO INDICO
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FÉRIAS NA SWAZILANDIA
UMA NOITE DE SONHO EM AMBIENTE DE MILIONÁRIOS
Depois de uma tentativa frustrada de localizar o Cônsul (Honorário) de Portugal em Mbabane, que anteriormente havíamos contactado por telefone e nos dera a esperança de poder resolver a questão do passaporte caducado, levando este documento no dia seguinte a Maputo, onde só o Consulado Geral desta cidade tem autonomia para o efeito, dirigimo-nos ao Hotel Lugogo Sun onde nos instalamos num belo apartamento familiar de dois quartos. O sol já se escondia por detrás das montanhas do Drakensberg mas as crianças não dispensaram um refrescante banho na piscina, enquanto os pais e avós se refrescavam de outra forma na esplanada adjacente.
As crianças junto da piscina do LUGOGO SUN
As forças foram assim retemperadas rapidamente e quando chegou a hora de jantar a fome já apoquentava, sobretudo as mais novas (netas) e os mais velhos (avós). Os do meio (filha e genro) pareciam não ter pressa para comer. Reservavam uma surpresa e só já por volta das nove horas anunciaram que íamos jantar fora. Deram instruções para que todos fossem bem vestidos uma vez que o restaurante era de alguma etiqueta.
Lá nos aperaltamos e tomamos os carros para uma curta deslocação, já que o dito restaurante ficava a apenas uns três minutos de viagem. Só à chegada nos anunciaram que estávamos no CALABASH, classificado há uns anos a trás como um dos dez melhores restaurantes a nível mundial no que respeita à gastronomia. Há muito que o nome deste restaurante me soava nos ouvidos, sobretudo nos encontros com os amigos da família que desde há muitos anos fazem férias na Swazilandia e a cada passo recordam as maravilhosas comidas do Calabash Continental Restaurant.
A Paula e o marido conheciam muito bem este sofisticado lugar de bem comer e beber e já levavam em mente o menu da sua preferência, onde não faltaram os caracóis e os cogumelos para as entradas e as boas carnes se vaca, carneiro e porco, confeccionadas segundo a tradição das cozinhas alemãs, francesas, suíças e austríacas, que são o cartaz atractivo do Calabash. Comemos de tudo um pouco e depois vieram as sobremesas, também especialidades da casa, como panquecas enroladas com sorvete e frutos silvestres e cerejas com sorvete e rum em taças a arder. O vinho branco, de boa qualidade, tinha o selo da África do Sul.
Que manjar, meus amigos!
Passava das onze e meia da noite quando deixamos este local e só à saída demos conta que durante as mais de duas horas que ali estivemos chovera a potes, como se podia verificar pelo estado das ruas e pelas enxurradas que corriam nas valetas!
São assim as paisagens circundantes dos Hoteis da cadeia SUN na Swazilandia. Um sonho!
Mas não tinham acabado as surpresas. Regressados ao Hotel recebemos o convite/ordem dos líderes do grupo, para irmos ao casino. As crianças ficaram tranquilas no apartamento e lá fomos os quatro conhecer a magia das famosas salas de jogos da Swazilandia, ali mesmo à mão, porque nos encontrávamos no complexo da cadeia SUN a que o casino pertence.
Era a primeira vez que eu e a mulher entrávamos numa sala de jogos de um casino e como tudo estava a acontecer sem que tivéssemos imaginado semelhante programa, a sensação que tivemos foi um misto de surpresa e alegria, tal como as crianças quando entram pela primeira vez num parque de diversões que só em sonhos idealizaram!
O elenco feminino do grupo junto da entrada do casino, no dia imediato à sortuda noite que ali passamos.
O embate inicial só não nos causou mais impressão porque no fundo aquelas imagens e sons característicos das máquinas da sorte e das roletas, assim como as vozes dos corrupieres (perdoem-me a ignorância da palavra), nós já conhecemos dos filmes e da televisão.
Tentando imitar o à vontade da filha e genro, que não sendo grandes fãs dos casinos sempre gostam de ir lá quando vão à Swazilandia, lá nos fomos ambientando de corredor em corredor a observar as muitas pessoas que jogavam quer nas máquinas quer nas roletas ou nas bancas de cartas. Só este espectáculo justifica uma ida ao casino!
Depois de tomarmos uma bebida a sugestão veio da filha: que tal arriscarmos umas notitas aqui nas máquinas? Ninguém se fez rogado e lá fomos ao balcão comprar um cartão de 400 randes, que substitui as antigas fichas agora somente utilizadas nas bancas de roletas e de cartas.
Depois escolhemos um sector com quatro máquinas, acabadas de utilizar por duas senhoras de meia idade que aparentemente esgotaram os seus cartões e se afastaram com cara de poucos amigos, ali abancamos cada um já de copo na mão pois os empregados eram bem solícitos a servir-nos e até nos sentiríamos mal se não lhes déssemos trabalho. O ambiente bem fresco fez com que escolhêssemos bebidas apropriadas e assim a boa disposição não faltou para a sessão que se seguiu durante cerca de três horas!
Inicialmente tudo corria mal e o cartão, que passava de máquina em máquina, oscilava entre os cem e os trezentos randes, isto é, com tendência negativa. No entanto, era uma estreia, para nós, bem divertida.
Pelas duas horas da manhã, estávamos já rendidos à evidência, isto é, de abandonar o casino com o prejuízo dos 400 randes, uma vez que aquela tendência se mantinha e por várias vezes o cartão esteve perto do saldo zero. No entanto, a sorte começou a mudar por essa hora, altura em que o saldo rondava os 800 randes. A Paula (a mais jogadora), pulava de contente sempre que lhe calhava uma tripla e as quantias ultrapassavam os cem randes. Ficou ainda mais entusiasmada quando o saldo do cartão ultrapassou os mil randes.
Como o saldo era já suficiente para se arriscarem jogadas de maior valor, passamos a utilizar esta estratégia que foi sugerida por meu genro e a verdade é que isso resultou pois o saldo continuou a aumentar já que com alguma regularidade saiam as tais triplas que faziam a campainha tocar durante algum tempo.
Tal era o entusiasmo que se apossou do grupo que nem demos conta de estarmos a ser observados por mais de uma dezena de pessoas que já haviam desistido de jogar e de olhos arregalados acompanhavam os nossos movimentos.
Outro aspecto da entrada do casino
Quando já nos preparávamos para sair, com uma quantia apreciável (para nós, pobretanas e jogadores de quinhenta), eis que uma jogada de jackpot (?) aconteceu na máquina da Lurdes. O tilintar imparável da campainha atraiu ainda mais gente, vinda mesmo do sector das roletas. Já não era só a Paula a saltar, mas todos os quatro!
Os curiosos que nos envolviam só queriam ver o valor do saldo do cartão quando a máquina silenciou, mas o Armando sacou o dito de imediato e chamou-nos para o balcão onde fomos receber uma bonita maquia!
Eram já três horas da manhã quando regressamos ao Hotel levando debaixo do braço uma bem fresquinha garrafa de champanhe francês com que festejamos o sucesso dessa noite mágica, emocionante e sortuda!
O sol já rompia quando conseguimos, finalmente, acalmar e dormir!
As crianças também se divertiram no dia seguinte, no salão a elas destinado.
Foi uma noite maravilhosa em ambiente de milionários que talvez não voltamos a repetir! Tão maravilhosa que nos fez esquecer o desgosto do dia anterior ao sermos forçados a interromper a viagem que tinha um destino bem diferente.
Só não digo aqui quanto trouxemos no bolso, porque, não sendo nenhuma fortuna, é dinheiro de jogo e sempre ouvi dizer que não deve ser revelado. Mas, para nós, foi uma quantia apreciável, que deu para cobrir o que perdemos no pagamento antecipado que fizemos para a estadia frustrada na Reserva de Caça de Mekuzi e para as despesas durante a semana de férias na Swazilândia.
Sobraram ainda uns cobres!
Maputo, Janeiro de 2005
Celestino (Marrabenta)
A SEGUIR: TRÊS DIAS EMOCIONANTES EM CONTACTO COM OS ANIMAIS DA RESERVA DE MKHAIA